Do Quintal ao Coração do Barro

Cordel de um menino sonhador, nascido em Maranguape 2

Nascido em Maranguape 2,

De menino já fui sonhador,

Com cinco anos de idade

Já era pequeno escultor.

Minha mãe trazia bonecos

Da terra onde nasceu com amor.

Caruaru era distante,

Mas vivia dentro de mim,

Na lembrança dos brinquedos

E no barro do meu jardim.

Eu cavava o chão do quintal

Feito um garimpeiro sem fim.

Minha mãe até pensava:

"É buraco de ganhamum!"

Mas era eu procurando

O barro do meu comum.

Quando achei, até provei,

Era macio, era algum!

Ali começava o encanto,

Minha luta e vocação:

Fazia boi, cavalo e vaca,

Com as mãos e o coração.

Fiz carrinho, fiz cachorro

Pra brincar com meu irmão.

Fiz o bebê dinossauro,

E muito mais eu inventava.

Era arte de menino

Que do barro se criava.

Mas o barro me feriu...

E a pele se acabava.

Peguei um micróbio danado

Que fazia a mão cair.

O doutor foi logo dizendo:

“Use luva pra esculpir!”

Mas o barro sem sentir

Não fazia o peito rir.

Então larguei um tempinho,

Comecei foi a desenhar.

Na escola, nos trabalhos,

Tudo eu queria ilustrar.

A professora dizia:

“Vai acabar sem lugar!”

“Você faz pra todo mundo

E esquece o seu dever!”

Mal sabia ela, coitada,

Que o barro ia me trazer

De volta pras minhas raízes

Que eu nunca devia esquecer.

Saí de Paulista, PE,

Com destino e direção:

Santa Rosa me acolheu

E aqueceu meu coração.

Foi ali que vi que o barro

Era mesmo minha missão.

E hoje, com alma firme,

Eu sigo o meu caminhar,

Com pincel, com fé, com sonho,

Com vontade de moldar.

Pois quem nasce pro barro vivo

Nunca deixa de criar!